O ócio me faz mal. Muito tempo afastado das coisas que me fazem respirar. Longe das literariedades cotidianas que me fazem ver as insignificâncias de outros modos. Distante dos livros que me fazem sonhar com outros mundos. Longínquo dos lugares que me levam à minha realidade paralela.
Talvez o único vício mantido tenha sido a música, porém vivida de modo muito tênue.
Sinto uma vontade a correr por minhas veias. Sinto-a ansiando novos fôlegos. Sinto-a mover-se cada vez mais rápido rumo à superfície como criança que não sabe nadar e cai em um rio, desesperada pelo precioso oxigênio. Minhas faltas me estrangulam lentamente. Preciso voltar à ativa.
O ócio me distanciou de meu universo paralelo. E ele, por sua vez, foi me abandonando aos poucos. Neste momento, agarro-me a um fio, diminuto e fino, para trazê-lo de volta. E ele vem.
Mais doce do que nunca. Mais aberto aos meus devaneios do que nunca. Mais acolhedor do que jamais presenciei. Creio que a saudade é recíproca e que o tempo passado, embora despendido em atividades inúteis, outras muito úteis com aquela que amo, apenas aumentou a cumplicidade que já existia. E que da saudade, agora surge um sorriso, uma calmaria, uma vontade de abraçar a mim mesmo. Um eu que eu guardei na gaveta e esqueci ali por um período. Mas que chamou minha atenção. E eu o ouvi. Eu me ouvi.
Após um longo período de inatividade a vida volta. Eu volto. Aqui estou. Aqui estamos. Aqui está o mundo que precisa ser vivido e presenciado. Aqui retornam à tona minhas insanidades reticentes.