segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Ilusões de uma noite taciturna...

[If we can, we will leave a letter and this song for you and we'll write once a day and float it through the sea to you. We'll regret all those things we thought of but didn't ever do... (Box Car Racer)]

O bilhar não despertava-me grande interesse naquele momento. A cerveja aquecia-se lentamente no copo plástico no canto esquerdo da mesa. O cigarro, deitado sobre o cinzeiro, escondia sua ponta vermelha na cinza que se reunia aos poucos. O recinto encontrava-se prestes a fechar-se. O novo dia já contava algumas poucas horas. Mas com isso eu pouco me importava. Tal era meu devaneio. Tal era a insanidade carregada naquela abstração.
Desculpo-me por abusar de alguns termos. Devaneio! Insanidade! Abstração! Se muitos os uso, é porque muito me ocorrem. Fosse eu tão obstinado quanto o major Quaresma não estaria a vagar tanto. Pobre de mim minha Marília. Queria que estivesses ao meu lado. Assim eu não me perderia tão facilmente. Mas confesso que essas reflexões já são parte de mim, e muito me atraem. E outra coisa desejo lhe confessar, em mim se reflete um pouco de Paulo Honório. Digo isto pois algumas vezes bate-me um certo receio.
Receio de ter deixado escapar por entre meus dedos certas coisas. Principalmente quando fitava seus olhos. Muito eu desejava lhe dizer, mas quando seu lindo olhar fitava o meu, nada mais que o monossilabismo de Fabiano tomava conta de mim. Por vezes, quando saía algo mais de meus lábios, eram tantas as repetições quanto as de Luís Silva. Ah! Minha Virgília!
Por favor, por causa de um receio não me compare totalmente a Honório, meu peito assemelha-se mais ao do desafortunado Werther. Não que eu deseje o mesmo fim. Aí encontra-se um pensamento que pouco me atrai. Meu fim, desejo eu, ser o mesmo de Seixas. Nossa história traz um afastamento parecido. Tão próximos e tão distantes. Queira Deus dar-me o mesmo fim. Ah! Como eu estaria contente após o pretendido acontecimento.
Mas cá estou eu, pedindo auxílio ao Sr. Bacamarte. Cá estou eu, sentado em uma mesa de um bar qualquer, vendo as portas se fecharem, esquecendo a cinza que cobre o cigarro, esquecendo-me de uma sete que insistia em não ir para sua casa, esquecendo-me da cerveja que esquentava. Cá estou eu, com um par de tênis sujos, com os cordões ajeitados no lado externo do pé, com uma bermuda velha, uma camiseta com uma estampa qualquer, alguns anéis nos dedos, foninhos de ouvido que tocavam uma música abafada pelo barulho do local. Cá estou eu, pensando se agora seus olhos estão fechados, descansando. Cá estou eu, pensando se sou em quem você vê em seus sonhos. Cá estou eu, lembrando-me de você.

2 comentários:

Anônimo disse...

Virgília ou Marcela?

Gaspar Ferreira disse...

"...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis..."

Não é Marcela, definitivamente.