segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ah, sim! Me lembro...


[Bring what's yours, I'll take what's mine and meet you on the other side, we'll leave a sun so anyone can find us. A better place, a sweeter time, we won't need any wings to fly. A place beyond the sun... (Shinedown)]


Sim, me lembro perfeitamente. Isso já havia ocorrido há dois anos. Lá estava eu, novamente, em uma terra que não era a minha, totalmente ausente. Não estava nem lá, muito menos aqui. Perdi-me no meio do caminho em ambas as vezes. Mas tive a oportunidade de pisar naquele solo novamente, de vê-lo novamente. Sentir o aroma que a terra exalava era no mínimo intrigante. A poeira que se erguia calava-se ao se aproximar. Os momentos eram inconstantes e os pensamentos, esses se encontravam longínquos, distantes das percepções alheias.
Como há dois anos, lá deixei um pedaço de mim. Deixei seis anos para trás, bem como algo recente que criou raízes profundas. Ainda não tenho certeza ao dizer qual dos dois foi mais doloroso. Mas por estranho que pareça, começo a sentir as conseqüências das escolhas que lá fiz. Felizmente, começo a não sentir saudade das coisas que lá deixei.
Santo ou pecador, pouco me importa. Nada está tão longe quando se pensa em coisa que não se deve. Elas estão ao meu alcance, mas não ouso tocá-las. Um único toque e todas as vontades sairão de minha boca e as atitudes outrora firmadas serão esquecidas em um piscar de olhos. Como há um tom de azul no céu que se tinge de fogo ao início e ao findar do dia fiz a promessa de enterrar meus fantasmas, exorcizar meus demônios. Ou livrava-me deles, ou eles consumiriam o pouco de consciência que me restava.
O suor escorreu por dentre os fios de cabelo e por todo o rosto, mas as covas paralisaram somente ao atingirem onze palmos de profundidade. Um serviço excessivo, porém feito do modo pretendido. Confesso que não foi cansativo cavar, não foi difícil sair da cova, não foi complicado arremessar para dentro dela meus pesares, nada disso foi doloroso. O momento verdadeiramente deprimente foi sentir a alegria tomar-me por completo com o ato concluído e perceber que essa alegria poderia ter vindo antecipadamente já há muito.
Mas arrependimentos devem ser passageiros, pois corroem a durabilidade das outras sensações. Não se deve deixar espaços para eles. Milímetros viram terra fértil em suas mãos. Por esse motivo, me lembrarei eternamente. Me lembrarei de esquecer, antes mesmo de lembrar.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Janela de uma alma...


[ Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão. Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão. Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão... (Legião Urbana)]



Fui lentamente até o canto do quarto. Lá era o único lugar em que havia luz com a lâmpada apagada. Fui devagar e sem tocar no interruptor. Eu não queria acordar ninguém. O feixe luminoso vinha da rua, vinha do poste. Atravessava a frágil janela de vidro. Chegava até o piso de madeira já comprometido pelas idas e voltas de seus antigos donos. Mas lentamente eu fui, colei meu rosto na janela, trouxe o caderno o mais perto que pude da luz. Eu precisava escrever. E essa necessidade percorria minhas veias em um movimento que quase me enlouquecia. Não tenho um grande motivo para escrever, foi um dia monótono em que acordei com uma tremenda dor no braço direito. Dormi de “mau jeito”. Mas creio que isso logo estará resolvido. Já tratei de me automedicar. Espero que a dor passe ou então, na pior das hipóteses, prometo que acenarei para vocês lá de cima.
Mas creio que não sofrerei conseqüências tão graves, é só uma dor no braço. E mesmo assim insisto em me aconchegar próximo à janela. Quero aproveitar cada segundo dessa luz, pois mesmo sem ter muito o que escrever, o desejo de continuar aqui é grande. E não consigo ficar parado, sem escrever. Isso acabou por se tornar uma lei em minha vida. Pode ser coisa fútil para alguns olhos, para outros, pode ser arte, eu só sei que escrevo. E escrevo muitas vezes sem pensar, escrevo o que está em meus pensamentos. E deles faço poesia, faço arte, faço estória da história. Desfruto da minha inquietude para mostrar uma inutilidade a um possível ouvinte. Será você a me ouvir? Será você a deixar - por um instante que seja, por breve momento – será você a deixar seus ouvidos colados no lado de fora dessa janela? Será você a ficar aqui do outro lado, parado e tentando entender por que está aí?
Não posso ficar te esperando, a luz pode ir embora. Eu estou aqui, você tem até o amanhecer para aparecer do outro lado do vidro. Eu sei que você sabe que eu estou aqui. Mas eu não sei se você sabe o que quer. E é por isso que desfruto desse momento calmamente. Se eu me desprender dele para ficar olhando para a rua para ver se você vai chegar ele desaparecerá, ele se dissipará, irá embora sem deixar vestígios e sem bilhete de despedida. Eu o perderei e talvez nunca encontre outro. Momento como esse jamais tive. O papel está ao meu lado, a caneta ao alcance de minha mão, e a perfeição luminosa atravessa um pedaço de vidro de alguns milímetros dando-me condições de expressar meus delírios.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Cantinho de felicidade...

[And now she's breathing down my neck and I hope she won't regret this choice... Regret this choice... (A Day away)]



Seis horas de viagem fazem com que os olhos se cansem e fiquem pesados. As pernas, antes dormentes, cambaleiam ao abrir da porta. Os pés não desejam responder ao contato com o solo fixo. Nada que um banho frio em uma terra de 40 graus não resolva. Terra calma, distante de minha casa. Mas não por isso desmerecida. O inverso por sinal, me é muito querida. A esse pequeno canto do mundo chamo segundo lar, recanto, paraíso para minha insanidade.
Falando-se em insanidade, é aqui que ela me deixa pensar. Raramente dá o ar de sua graça. Aqui fico tão quieto que esqueço de mim mesmo. A cadeira na varanda é bom lugar para sentar-me e manter o costume da leitura. A brisa daqui traz mais alento que o comum. Ela se deixa perceber mesmo com o ventilador ligado. Parece que quando ela passa deixa um pouco de esperança, e quando vai, leva minhas preocupações.
Engana-se quem pensa que estou em um local paradisíaco conhecido por uma infinidade de pessoas. Pelo menos para mim ele é paradisíaco. E, na verdade, é conhecido por poucos. Na verdade, é bem pequenino. Na verdade, poucas verdades sobre ele sei. Apenas sei que aqui me sinto bem, que tenho vontade de ficar por aqui e esquecer das atribulações de minha terra natal. Definitivamente, o lugarzinho conquistou-me. Chamo lugarzinho pelo carinho que em mim despertou. Aqui as poucas pessoas que conheço me querem muito bem. Preocupam-se com o meu bem-estar como poucos o fazem.
Infelizmente, logo voltarei. Deixarei a terrinha para trás. Mas bem queria eu ficar estirado na varanda dessa casa, a pensar em nada e sobre nada refletir.
Queria eu descrever-lhes um pouco mais esse cantinho de meu mundo. Mas a vontade de apreciar seus frutos é maior do que a de ficar contando-vos como são. Se quer descobrir onde estou, procure em suas memórias o lugar onde mais se sinta bem. Lá estarei eu.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Daqui a pouco lá...

[We sit and dream of better days, where we'd hit the ground running on empty, stories we've been told and all those nights we spent together never felt this fucking cold. When we let the car run in the driveway. Kiss you one last time before we brought the horse's in before the storm of '59'!... (Alkaline Trio)]



Já é noite de sexta. Uma velha canção anuncia uma nova promessa. Creio que essa demorarei um pouco para realizar. Mas a cada dia em que ela se manter, a contagem será maior e dará mais força para que mais dias entrem na contagem. Um após outro. Acima de tudo preciso de força. E a tenho de sobra. O que faltava era o desejo. A comodidade às vezes é minha principal vilã. Mas agora confesso que estou um pouco curioso ao olhar para o que eu posso ser no ano que se iniciará. Como em todos os outros, fiz alguns planos. E quem não faz na verdade? Até o fim do último minuto desse ano é permitido fazer pedidos para o novo. E ainda restam alguns dias, posso pedir ainda mais coisas. Mas sou modesto, peço apenas o necessário, aquilo de que realmente necessito. O supérfluo, se tornar-se necessário, tratarei de buscar.
Mas por enquanto estou tranquilo. Tranquilo até demais. Férias fazem isso com as pessoas. Não ia ter férias, mas resolvi por o pé na estrada. Dado o momento por que passo uma viagem não seria das piores coisas. Ainda mais pela duração estendida. Há coisas para serem lembradas com muito carinho. Também há coisas para serem esquecidas. Na verdade, a maioria delas merece uma reflexão a seu respeito. Mesmo que seja MAIS uma. E terei tempo de sobra para elas. Depois disso poderei esquecê-las sem qualquer ataque de consciência.
Então arruma-se as malas. Camisetas, meias, perfumes, escova de dente. Um livro não cairia mal. Lembrei que estou levando dois. A respeito do primeiro, estou quase em seu fim. Estou a ponto de explodir de ansiedade. Mas vou lê-lo com muita calma, para não perder nem um pouquinho da mágica. A respeito do segundo, já me falaram muito bem dele e acabo por reservar certa ansiedade para ele também. Mesmo sem sequer ter lido sua contracapa. Mas lá vou ter tempo suficiente.
Para matar a vontade de escrever, de vez em quando, vou procurar um cantinho onde ninguém me encontre, pegar um lápis e uma folha de papel, ou de qualquer material em que eu possa rabiscar. E vou escrever. O que me vier na cabeça, o que aparecer de idéia, o que a música inspirar. Talvez depois eu mostre. Mas só se for digno de ser mostrado. Se não for, guardarei mesmo assim, pois foi uma pequena obra minha. Não é prima, mas é minha. E a guardarei com carinho. Um pouco antes disso, vou-me embora. Vou ali, pegar a estrada para ir para lá. Até logo.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Um meio dia para jamais ser esquecido...


[Let the seasons begin, it rolls right on... (Beirut)]


Lágrimas cobrem minha face e obrigo-me a escrever. Não é tristeza, rolam por causa de pura comoção. O ambiente não é dos mais alegres, mas apresenta sua magia ao primeiro passo no recinto. Acordei meia hora mais cedo nessa manhã de domingo. Tinha que chegar mais cedo ao trabalho. Era dia de levar um pouco de alegria a um grupo de idosos que vivem em um asilo da cidade. Cortesia de uma senhora chamada Maria, faríamos um almoço de Natal para os velhinhos. Antecipado, porém sem perder um mínimo de graça.
Logo ao chegar, alguns rostinhos curiosos e esperançosos. Via-se ansiedade por uma surpresa naquelas faces assoladas pelo tempo. Era hora de começar a trabalhar. Lugares para 210 pessoas deveriam ser arrumados, pouco menos que isso foram os usados. Mas todos os 210 deveriam estar lá. Dentre eles estariam funcionários e suas respectivas famílias, bem como os adoráveis velhinhos. Tudo pronto, abriram-se as portas. Aos poucos chegavam, caminhando lentamente, alguns em cadeiras de roda. Esses necessitavam de ajuda para chegar ao local do almoço. E que então comece a celebração.
Engana-se quem pensa que seria algo calmo e quieto. Alguns faziam alvoroço, riam alto. Um riso prolongado que faz com que qualquer coração de pedra peça para chegar a tal idade com aquele riso nos lábios. A maioria demonstrava alegria, alguns poucos se calavam a apenas balançavam a cabeça agradecendo. Mas confesso que foi uma certa velhinha que mais me comoveu. Ela nada dizia, nada fazia. Imóvel, até mesmo com os olhos, insistia em fitar o nada. Era sua amiga que respondia por ela. Talvez sua vida tivesse sido tão sofrida que agora já não lhe restara mais motivos para esboçar qualquer atitude ou emoção. Pensei que ela já não falava mais, mas sua amiga disse que isso é coisa rara. Ela só fala de vez em quando, no momento em que se fazia estritamente necessário. E nada além disso. Nem com os olhos falava.
Confesso-vos que me enganei tremendamente ao pensar que todos ali estavam em fim de carreira. Teve uma mulherzinha. Pequenina, de mãos já bastante enrugadas, que ao me ver, brincou com a moça que estava próxima a ela. Disse ela o seguinte:
- Chegou meu noivo, vou fugir daqui com ele.
Para mim foi imensa a surpresa. Tal fato fez-me rir por incontáveis minutos. E ainda o faz mesmo depois de eu ter abandonado o local. Basta lembrar-me e o riso aparece novamente. Mas, para a infelicidade de muitos, e minha própria, acabou-se o almoço, já passava da hora. Mas surpresas ainda vinham a passos lentos. Ou melhor, a sinos. O estridente barulho de um pequeno sino anunciava a entrada de um Papai Noel. Fajuto como não haverá outro, mas com isso os velhos pouco se importavam. Para eles era simbólico assim como para as crianças. E na verdade, eles voltam a ser crianças, e mais para frente lhes direi algo mais a respeito desse meu pensamento.
O homem de roupa vermelha e barba postiça veio e arrancou aplausos. Distribuiu mais do que somente doces, distribuiu beleza a um lugar pouco visitado por ela. Para fechar com maestria. Sorvete a todos, e dos mais diversos sabores. Alguns que nunca vi. Frutas dos nomes mais estranhos transformadas em um bloquinho de gelo.
Para a minha tristeza, era hora de ir embora. Nosso serviço estava feito e deveríamos voltar ao local de trabalho habitual. Cortava-me a coração deixá-los lá. Na maioria das vezes, o que eles mais precisam é de um pouco de carinho. O que lhe é negado na maior parte do tempo. Eles são como criança pedindo colo. E como lhes disse anteriormente, lhe darei um exemplo do que lhes afirmei. Quando já estava pronto para partir, eis que vejo um senhor cadeirante, na roda da frente de sua cadeira, no lado direito, havia um barbante. Esse barbante estava amarrado a um caminhãozinho de plástico, o qual ele levava para todos os lados. Imitava o som do motor, brincava de fazer curvas, as quais fazia com perfeição e extraordinária agilidade. Extraordinária pois se tratava de um senhor em uma cadeira de rodas, mas ele parecia nem senti-la, parecia menino correndo de um lado para o outro.
Era hora de ir, despedi-me recebendo enérgicos abraços e agradecimentos dos mais sinceros que já vi. Confesso que mesmo agora, horas depois de já ter chegado em casa, a comoção ainda me toma, e faz meus olhos encherem-se de água.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Amanhã...

[Quando vem o amanhã incerto a certeza me faz ver o inverso. Já não tenho o mesmo medo de me repetir, a verdade disso tudo é o que me faz seguir... (Detonautas)]



É coisa pequenina. Tem cheiro de anjo. Tem suavidade de nuvem. É ponto final. Por vezes interrogação. Mas, na maioria das vezes é estridente ponto de exclamação. Faz voar e habitar os abismos mais profundos ao mesmo tempo. Faz sentir-se no topo do mundo ou no fundo de um oceano. Faz chorar de alegria no inferno e celebrar de tristeza nos céus.
Essa coisa pequenina pode ser do tamanho de um grão de areia, ou maior que o próprio universo. Cabe em um vidrinho na estante. Mas geralmente faz o peito explodir. Faz um olhar tornar-se comedido diante do nada. Faz um olhar contemplar o nada e se deslumbrar. Um único pensamento sobre ela e quilômetros viram milímetros. O sangue vira nitroglicerina e corre mais rápido que a luz. Nem mesmo a luz consegue ofuscá-la.
Pequena coisa que está ao alcance de qualquer um. Fica de prontidão frente ao indivíduo apenas pedindo passagem. Às vezes pede morada. É dia raiando ao cair da noite. Faz respirar profundamente sentindo o ar rarefeito no nível do mar. É tão contraditório que não se consegue explicá-la. Mas é tão simples que não precisa de explicação. Embora a explicação seja dada a cada dia por milhões. Mas nem sempre essa explicação é compreendida.
Não ousarei tentar explicá-la. Ela não tem uma fórmula a ser decorada. Não é cobrada em uma prova de vestibular. Tampouco possui um conceito. Se possui, desconheço. Diga-me se souber. Só não lhe garanto que o aceitarei. Não é intransigência. É que tenho uma visão dela. Mas não me pergunte qual é, pois não saberia lhe definir com palavras. E não gosto de deixar perguntas sem respostas. Portanto, ajude-me a evitar essa situação constrangedora.
Sei de poucas coisas sobre ela. O mais importante é que recebi um caloroso abraço dela hoje. E por isso escrevo. Dizem que quem escreve apropria-se de sua realidade. Retira dela sua inspiração. E foi assim que me ocorreu nessa tarde. Não darei pormenores. Apenas digo que foi algo fora do comum, como na verdade tudo o é. Tudo é simples como essa pequenina coisa. Basta vermos atentamente que encontraremos essa fagulha que atende pela denominação de felicidade.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Tolo...


[And be a simple kind of man. Be something you love and understand... (Shinedown)]



Lamentando o que foi feito. Lastimando o que deveria ter sido feito. Foi assim que despendi alguns dos dias que se passaram há umas semanas atrás. Mas um momento muda tudo. Um único momento mudou tudo. Muda ações, muda intenções, pretensões, pensamentos. Acima de tudo, pode mudar percepções. Mudar o ponto de vista sobre determinadas coisas.
Coisas que levam a lamúrias. Mas se vistas de outro ângulo, podem se tornar motivo de orgulho. Dizem que não se deve reclamar do que não se tem, e sim agradecer o que está em nossas mãos. Certa vez fiz isso. Acabei por perceber a inutilidade de certos pensamentos que tinha. Creio que está na hora de fazer isso novamente. Não tenho tudo aquilo com que sempre sonhei. Mas tenho força em meus braços para tentar alcançá-las. Mais que isso, já conquistei coisas pequenas, que por serem fruto dos meus esforços, tornaram-se grandiosas.
Se ao menos por um instante eu conseguir me concentrar nessas pequeninas conquistas, poderei ver que meus sonhos, por mais difíceis que pareçam, podem ser alcançados. Apenas não devo me esquecer deles. Deixá-los de lado. Os sonhos são fontes de energia, combustível. Sem eles a vida torna-se vazia e sem sentido. E creio que a vida seja muito mais do que um dia de trabalho simplesmente para pagar contas no final do mês. É uma dádiva que nos foi dada há milhares de anos.
Só não sei porque teimamos em desperdiçá-la. Tento viver a minha tranquilamente. Às vezes não consigo. Às vezes me perco meio a alguns devaneios. Às vezes me pergunto se estou agindo certo. Talvez o que mais me assusta é quando penso se estou vivendo no lugar certo na época correta. Há um mundo lá fora mergulhado em caos e hipocrisia. A falsidade anda de mãos dadas com ele. Ele também tinha um velho amigo chamado julgamento, que estava em todos os lugares.
Esse velho amigo do mundo já me causou diversos problemas. Mas não guardo mágoas dele. Aliás, como faço com todos que conheço. Para minha infelicidade em algumas ocasiões. São sempre dedos apontados e palavras sem fundamento. Ainda tenho a esperança de um dia ver o mundo crescer. E envelhecer. Pois é quando se envelhece demais que se vê a importância de ser criança. Eu digo sem medo que sou uma das maiores crianças do mundo. Eu brinco, rio, me divirto, faço palhaçada. Assim, por alguns poucos momentos, me esqueço das impiedosas regras do mundo e das milhares de preocupações que ele me traz. Tudo isso com um sorriso no rosto e meus sonhos no peito. Um dia o mundo me permitirá realizá-los.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

If you only knew...


[ And if you see me please just walk on by, walk on by. Forget my name and I'll forget it too... (Rise Against)]



Por vezes desejei seus olhos fitando os meus profundamente. Tão profundamente que descobririam em um instante os sentimentos mais internalizados que você até hoje desconhece. Por outras vezes desejei que minhas mãos pudessem tocar sua face e demonstrassem um carinho que você jamais esqueceria. Por outras tantas vezes, desejei que meus lábios tocassem os seus, e lhe mostrassem o quanto eles os quiseram por tanto tempo. Apenas quis estar ao seu lado e lhe mostrar toda a amplitude desse sentimento. Apenas quis lhe convencer de que você nunca esteve sozinha, eu sempre estive aqui, mesmo em segredo.
E sempre foi em segredo, até quando não pude mais suportar. Explodi e não consegui me conter por dias, quem sabe meses. Mas como sempre há um porém, não houve reciprocidade. Desde o início não houve. Eu sabia o que sentia, você sabia que não sentia. Mas creio que o ponto em que essa falta de reciprocidade mais se evidencia seja nas desavenças que tivemos. Sempre prendi as palavras que você não desejaria ouvir. De vez em quando, alguma saía sem permissão. E como eu me arrependia depois de tê-la proferido. Você, no entanto, nunca mediu as suas, nunca mediu esforços para me ferir com elas.
Você ficaria assombrada se eu lhe falasse tudo o que me sufoca quando penso em você. Mas eu nunca direi tais coisas, pois a última coisa que quero nesse mundo é lhe ofender. Quem sabe um dia você olhe para trás e veja tudo o que sobrou. Duvido muito que esse dia chegará. E se chegar, será muito tarde, já é tarde. As portas se fecharam para você. Desta vez, definitivamente. Eu me cansei. Cansei de todas as suas atitudes. Há muito não alimento esperanças. Elas de nada me serviriam. Há muito me cansei da paixão que tinha por você. E por último, me cansei até de sua amizade. A cada vez em que eu estendia minha mão para você, em troca, você atirava uma pedra em minha direção.
Cansei-me de todas as pedras recebidas. Não sei se era esse seu plano, mas se a função delas era fazer com que eu te esquecesse, saiba que elas cumpriram sua função exatamente como o determinado. Talvez até melhor. Talvez a execução do plano tenha saído um pouco de seu controle. Mas o produto final com certeza foi o desejado. Você conseguiu me retirar da sua vida. Mas eu não desejo seu mal, de forma algum eu faria isso. Na verdade, muito pelo contrário, desejo que você seja muito feliz. Desejo que você expanda a sua visão de mundo, que você se abra para as surpresas que o dia seguinte sempre traz e, acima de tudo, desejo que você viva. Plenamente, alegremente, da melhor maneira possível.

domingo, 16 de novembro de 2008

Must love dogs...

[Eu procuro um amor, que ainda não encotrei. Diferente de todos que amei. Nos seus olhos quero descobrir uma razão para viver, e as feridas dessa vida, eu quero esquecer... (Frejat)]


Nunca assisti Dr. Jivago. Tampouco li Pasternack. Embora no presente momento eu tenha uma imensa vontade de fazer ambos. Adquiri certo fascínio pelo romance. Espero logo poder saciar minha curiosidade. Mesmo já sabendo boa parte da história. Mas não foi um filme ou um livro o que mais me chamou a atenção. Fora uma personagem fictícia. Uma personagem com a qual muito me identifiquei e mais ainda me intriguei. Como pode fictício ser tão parecido com real?
Na verdade não é tão parecido. Não tenho a mesma idade. Nem fabrico barcos de corrida com minhas próprias mãos. Muito menos me chamo Jake. Mas a cada cena eu tinha uma surpresa diferente. Modo de pensar parecido, atitudes parecidas. Até frases parecidas. A verdade é que a figura mítica Jake existe. Existe dentro de muitos. Mas em mim, tem grande parcela na minha personalidade. É o que eu sou. Não retrato perfeito, mas retrato esboçado. Figura presente em meu dia-a-dia.
Eu me assistia. Eu me via em um roteiro. Talvez um dia eu encontre minha Sarah e tenha bons momentos. Mas por enquanto, sigo com minha sina. Sina de ajudar os outros e esquecer-se de mim mesmo. Estender a mão quando sou eu quem precisa de ajuda. Acreditar nas pessoas antes de ter prova de confiança. Gostar das pessoas sem ter motivo. Dar carinho após receber um tapa no rosto. Aconselhar a mão que me apedreja.
Eu bem poderia ser um desgraçado, medíocre, hipócrita e pestilento. Às vezes também desejo ser todas essas coisas. Porém é nessa exata hora em que me lembro dos sorrisos que já proporcionei. E em poucos segundos essa idéia desaparece de minha mente. Às vezes tenho vontade de jogar tudo para o alto. Ir morar em uma cidadezinha pequena. Levar uma vida monótona, onde talvez eu pudesse encontrar o que tanto procuro. O meu lugar.
Interessantemente, não espero ansioso pelo meu final feliz. Também sou cheio de incertezas e manias. Cheio de teorias furadas de filósofo de final de semana. Tenho muito ainda a aprender. Apreender. Mas acho interessante o ponto de vista da maioria. Sempre olham o que ainda não se sabe. Nunca o que se sabe com maestria. Talvez eu nunca encontre minha Sarah. Talvez fique sozinho. Todavia, prefiro ficar sozinho a fingir ser o que não sou. Prefiro ser eu mesmo, por mais alto que seja o preço, por mais que doa.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

I miss you...



[E é só você que tem a cura do meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi... (Legião Urbana)]


A saudade me abraça nesse meio de noite. Ainda é cedo. Sempre é cedo. E tenho saudades de escrever. A vida acabou se tornando tão atribulada nos últimos dias que esqueci da minha terapia frente aos verbos, substantivos, adjetivos. Esqueci-me da paz que tenho ao refletir sobre algo. Calmo, sereno, esquecendo das regras, do tempo, pensando nos passos que estou dando.
Que saudade tremenda. Saudades de tudo. Saudade de acariciar a sua face, de olhar em seus olhos, de abraçá-la. Tenho saudade também das conversas, e do silêncio que fazia de vez em quando. O qual fazia com que o riso aparecesse sem pedir licença. Tenho saudade de sentar ao lado dela. Tanta saudade me faz lembrar. E ao me lembrar fico um tanto nostálgico.
Lembro-me da primeira vez em que a vi. Fiquei extasiado, mas a ocasião forçava-me a me conter. Era fim de tarde. Havia muitas coisas em minha cabeça. Não me recordo no que eu pensava. Já faz muito tempo isso. Mas eu me recordo dela. É o que basta. Eu poderia ficar dias e dias falando sobre esse encontro despretensioso. Mas não pretendo. Levaria muito tempo. Tempo muito bem perdido é verdade.
Porém é um tanto melancólico ficar falando sobre o passado. E também é estranho olhar para o presente. Cheio de saudade. Cheio de esperanças. Com algumas expectativas. Cheio de incertezas. Incertezas que aprendi a manusear ao longo do tempo. Mas confesso que todo o conhecimento que tenho, tudo o que já aprendi, sucumbe quando estou frente a ela. Sempre é algo inesperado, primoroso ou desastroso. Qualquer previsão feita anteriormente desaba na primeira palavra.
Estremeço quando isso ocorre. Tenho vontade de correr. Mas já estou cansado de fugir. Fugi demais em minha vida e acabei por perder muitas coisas. Tento buscar lá no fundo a coragem que me falta quando as primeiras palavras teimam em se esconder atrás dos meus lábios. Entretanto, toda ajuda nesse momento é pouca. Queria ter nascido com um manual de instruções para saber o que fazer. No entanto, se o tivesse, o momento perderia sua graciosidade.
Talvez esteja aí o segredo. O encanto possivelmente esteja na simplicidade dos atos. Nos imprevistos que ocorrem. Na falta de um emaranhado de textos que ensinem o que fazer. Na ineficácia de algo pré-programado. Só ela, eu, conversando, se olhando, silenciando. Sorrindo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Exposição de um paradigma...



[I woke the other day and saw my world has changed. The past is over but tomorrow‘s wishful thinking... (The Offspring)]


Um sentimento triste toma conta de mim nesta noite. Para saciá-lo talvez escorra uma lágrima em meu rosto. Mas por que deveria eu derramar tal lágrima? Por sentimento há muito enterrado? Talvez não pelo sentimento e sim pela guerra em que nasceu. Muitas batalhas foram perdidas. E assim também se seguiu com a guerra. Mas como sempre há um herói, ressurge do anonimato figura inédita.
Resta saber de que lado está. Se é para ajudar-me ou atormentar-me ainda mais. Se veio para findar com a guerra ou para levar-me à tão desejada vitória. Desconheço de onde vem tal ajuda. Mas intrigo-me ao pensar no desfecho desta história. Imagino desde já o fim. Mas será isto que o destino me guarda? Será silêncio após olhar ou será resposta a pergunta antiga? Serão respostas ou apenas mais questionamentos?
A pergunta mais certa no momento talvez seja a seguinte: será alegria ou tristeza? Em certo momento em que já me desvencilhei de algumas aflições, o fantasma do passado volta e atormenta-me. Talvez seja a derradeira conversa. Ou talvez seja apenas o reinício daquela velha história. Cá estou eu novamente com minhas reflexões. Muitas errôneas é verdade. Ninguém é perfeito. Queira Deus que nunca eu o seja.
Mas mesmo assim minhas reflexões estão aqui. O que esperar do inesperado? O que pensar diante do desconhecido? Onde pisar em terra desconhecida? Esses são assuntos que ainda me fazem permanecer acordado até certas horas da manhã. E já que o sono não se faz de meu companheiro, resta-me tempo de sobra para pensar sobre tolices a respeito de tudo.
Tolices que já não conhecem limites. Já criaram asas e voaram para longe do meu alcance. Apenas vem e vão. Em velocidade que mal consigo acompanhar com os olhos. Mostram-me caminhos que não sei se devo trilhar. E, ao mesmo tempo, mostram caminhos de plenitude. Onde mal algum me alcançará. Mas que talvez esqueça-me de arriscar. Esqueça de tudo. Inclusive do que me é mais prezado. Ficarei sereno até saber qual caminho trilhar. Deixarei que algumas horas façam o serviço de uma era inteira. Farei minhas as palavras do tempo, mesmo sendo corroído pela ansiedade.
Ficarei aqui, até ver os dois lados desta moeda. Permanecerei aqui enquanto me seja conveniente. Permanecerei aqui. Sem motivo, sem razão, sem desculpa. Ficarei a ouvir uma velha canção qualquer que me faça lembrar velhos tempos. Ou ouvirei nova canção que trará contemporaneidade aos meus ouvidos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Eternamente...


[ Este post acompanha não somente um trecho, mas sim uma letra de música inteira, pois diz simplificadamente tudo o que quero dizer. ]



Life Of A Salesman
Yellowcard


What's a dad for dad?
Tell me why I'm here dad
Whisper in my ear that I'm growing up to be a better man, dad
Everything is fine dad
Proud that you are mine dad
Cause I know I'm growing up to be a better man


Father I will always be
That same boy that stood by the sea
And watched you tower over me
Now I'm older I wanna be the same as you


What's a dad for dad?
Taught me how to stand, dad
Took me by the hand and you showed me how to be a bigger man,dad
Listen when you talk, dad
Follow where you walk, dad
And you know that I will always do the best I can
I can


Father I will always be (always be)
That same boy that stood by the sea
And watched you tower over me (over me)
Now I'm older I wanna be the same as you
The same as you


(When I am a dad, dad
I'm gonna be a good dad
Do the best you could, dad
Always understood, dad
Tell me I was right, dad
Opened up my eyes, dad
Glad to call you my, dad
Thank you for my life dad)



Poucas palavras tenho para homenagear aquele que tanto me ensinou. E ainda muito me ensinará. Sou menino-moleque frente a ele. Embora sejamos muito parecidos fisicamente, não ouso de modo algum comparar-me a ele. Ele é imensamente mais sábio. Quase meio século de vida. Queira Deus que ainda passe muitos anos comigo. Ainda tenho muito a aprender. O segredo daquela caipirinha que só ele sabe fazer. E outras coisas muito mais preciosas que um mero drink. Coisas da vida.
Confesso que é amor sem freio. Inflo meus pulmões ao máximo para chamar-lhe de substantivo tão digno. Pai. Esteve sempre comigo. Mesmo quando estava kilômetros e kilômetros distante. Era meu espelho. E sempre será. Exemplo a ser seguido. Meu motivo de orgulho. Diversos adjetivos eu poderia usar para retratá-lo. Mas prefiro apenas dizer apenas que é pai. É o que basta.

domingo, 2 de novembro de 2008

Delírios de antemanhã...


[And if strength is born from heartbreak many mountains I could move. And if walls could speak I'd pray that they would tell me what to do... (Rise Against)]


Não consigo escrever. Não é que não possa. Apenas não consigo. As palavras parecem um tanto sem sentido. Não consigo descrever a cena que persiste em tomar minha mente. Toma cada segundo. Cada segundo de um dia inteiro. Não que as palavras estejam vazias. Não que falte inspiração. Apenas não consigo.
Há muito é dito que uma imagem vale por mil palavras. E como encontrarei estas mil palavras para tentar explicar essa imagem em minha mente? Talvez não encontre. E se encontrar, não sei se serão capazes de exprimir o que há em mim. Talvez seja pouco mais complicado do que me parece. Ou talvez seja mais simples do que realmente o é. Ou ainda, não seja para ser explicado. Que seja mistério.
Mistério doce, pedindo para ser revelado. Mas não sei se conseguirei desvendar tal enigma. Aparenta ser junção de bem e mal. Comunhão de certo e errado. Distante e ao mesmo tempo ao meu lado. Como posso lidar com essas alternativas? Verdadeiramente creio que não posso. Temo perder-me meio a encurtadas descobertas e não tornar a pisar em solo firme.
Essa indescritibilidade possivelmente é o que causa temor. Tenho em mãos algumas respostas. Sei o onde, o quando, o como. Vagamente o porquê. Sei também o quem. Mas é a partir daí que surgem investigações sem soluções. Até em que ponto a razão pode auxiliar em assuntos alheios à sua área? Sinceramente desconheço. Já ultrapassei ou nem lá ainda cheguei. Talvez lá esteja chave para que eu possa abrir uma pequena caixa onde contém uma saída para esse labirinto.
Labirinto feito paraíso. É tão bom estar nele que até me esqueço do fato de estar perdido. Mas estar perdido às vezes é melhor do que encontrar-se. Bom exemplo para outra velha frase. Posso ficar aqui. A noite toda. Olhando para o céu e contando estrelas até que alguma delas me guie. Melhor seria se descesse e contasse-me boa estória. De olhos estalados e ouvidos atentos eu ficaria. E se ela descer e for para longe. Pedido farei. Não posso contar, pois se assim fizer, ele não se realizará.
Assim que realizar-se contarei. Rogarei por algo que muito quero. Algo e não alguém. Alguém não é objeto para ter dono. Suplicarei por algo relacionado a esse alguém. Não é pedido exorbitante, demasiado. É coisa pequena. Pequena que caberia nas mãos. Mas não posso tê-la nas mãos pois não se pode tocá-la. Não se pode vê-la. Nem senti-la. Ela inexiste até que se precise dela. Até que se pergunte por ela. Apenas está ali. Aqui. Distante. Entre o bem e o mal. Entre o certo e o errado.

sábado, 1 de novembro de 2008

(explosão)...

[Um coração nesse furacão, ilhado onde estiver. O meu querer é complicado demais. Quero o que não se pode explicar aos normais... (Catedral)]


Era sono. Alucinações sob o travesseiro. Era vento forte na janela. Eram pálpebras pesadas pedindo para serem lacradas por algumas horas. Era cansaço de um dia agitado. Era mundo girando. Era qualquer coisa menos levantar-me. Era falta de forças para erguer-me da cama. Estava cômodo demais apenas ficar ali. Deitado. Esquecer do que haveria no amanhã. Era desânimo antes de um desejo de boa noite.
Foi resposta. Foi pergunta. E novamente resposta. Foi movimento brusco. Foram olhos abrindo abruptamente. Foram mãos procurando os objetos pessoais. Foi saída. Foi telefonema. Foi encontro. Foi olá. Foi novamente pergunta. Foi novamente resposta. Foi indagação. Foi saída sem rumo. Rumo sem destino. Foram boas-vindas a forasteiro. Foi beijo. Foi sonho realizando-se.
Foi sonho há muito sonhado. Foi riso a revelar tal sonho. Foi riso a noite toda. Foi riso bobo. Foi riso incontrolável. Foi perder-se meio ao inesperado. Foi entregar-se a admirável beleza. Foi entregar-se em mãos suaves.
Era mão que acariciava. Era boca próxima uma da outra. Eram olhos nos olhos. Eram olhos fechados. Era alegria incontida nas palavras. Era alegria incontida nos gestos. Eram gestos calmos.
Foi noite calma. Foi noite tranquila. Foi noite serena. Foi noite divertida. Foi noite perfeita. Foi perfeição sem lugar. Foi lugar em que abri os olhos e a vi. Foi visão esplêndida de graciosidade. Foi graciosidade que despertou desejo. Foi desejo para que a noite não findasse.
Foram olhos abrindo-se pela manhã. Foi lembrança seguida de felicidade. Foi questionamento. Por um minuto pensei ter sido apenas sonho. Mas o contentamento em minha face dizia que não. Foi novamente desejo. Desejo extasiado de ter mais noites como essa.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Kat ooi yuvai...



[Então me abraça forte, e diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo... (Legião Urbana)]


Linda como a primeira flor de uma primavera. Beleza contida em pequenos detalhes que se tornam imensos sob visão atenta. É calmaria em gestos inquietos. É tempestade que desatina meio a dia ensolarado. É tragédia grega sem saber-se do final. É inominável. É tudo. É nada. É sorriso.
Sorriso que sobrepuja a escuridão. Faz-se luz meio a trevas. É dia ao cair da noite. É doce que sobrepõe o amargo. É tempo que não passa. Que insiste em se delongar. É tempo que merece ser demorado. É momento que se rende ao tempo. É momento de instante. É instante prolongado por uma eternidade. É eternidade momentânea. É eternidade passageira. É promessa escondida. É segredo guardado a oito chaves.
É sabor de manhã de domingo. É sensação de leveza. É gosto de brisa. É toque de nuvem. É lembrança guardada com carinho. É carinho que torna forte. É força que demonstra fragilidade. É fragilidade que demonstra força. É fragilidade que demonstra delicadeza. É delicadeza que pouco se expõe. É exposição desenfreada de alegria.
É carta que vem de longe. É suspense ao abrir presente de aniversário. É despreocupação de criança. É inocência de criança. É regra quebrada. É saudades ao olhar fotografia. É sono de insônia. É passeio no parque. É caminhada sem destino. É poesia sem versos. É verso de várias rimas. É rima que não necessita rimar. É explicação incompreendida. É esquecimento do que ninguém consegue entender.
É entendimento da simplicidade. É simplicidade que não precisa de entendimento. É paradoxo simplificado. É pragmatismo não costumeiro. Apenas é. Sem reticências, com ponto final. Apenas o é. E da mais bela maneira.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Relâmpagos de um anonimato...


[I woke up in a dream today to the cold of the static and put my cold feet on the floor. Forgot all about yesterday... (Linkin Park)]

Chove chuva sem cessar. Chuva chove sem molhar. Chuva chove sem se mostrar. A janela está úmida. Escorre pequena gota de água. Mas os olhos não conseguem ver mal tempo algum. Manhã clara em dia limpo. O relógio de pulso na cabeceira da cama havia indicado três da madrugada. Talvez nessa hora houvesse chovido. Mas a falta de sono impedia a diferenciação dos atos e objetos. Apenas gosto amargo.
Gosto amargo do ódio. Ódio destilado nas veias. Subindo ao cérebro. Aliando-se à ira. Temerosa fusão resultante de dias de agonia. Sem motivo, sem razão. Na verdade razão alguma. Se houvesse razão, haveria pensamento, raciocínio. E se houvesse raciocínio. Já não haveria mais ação instintiva. Haveria ausência de selvageria. Mas não houve ausência.
Houve presença. Em um olhar fitando o nada. Paralisado, porém descomedido. Apenas ali. Lá. Sem lugar. Apenas estava.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

This silence...


[And I don't want the world to see me, 'cause I don't think they'd understand. When everything's made to be broken, I just want you to know who I am... (Goo Goo Dolls)]



O silêncio fez parte de minha noite. Assim como em minha tarde. Misterioso, sem dizer porque estava aqui. Apenas estava. Ao meu lado, calmo, quieto. Aqui. Fiquei um tanto pensativo a princípio. Mas logo me habituei com a sua presença. É meu velho conhecido, verdade seja dita. Mas há muito não tínhamos um encontro tão duradouro. Ele não me permitiu adormecer ontem. E também não me permite ficar quieto hoje.
Fica a soprar meu ouvido. Terá nome esse silêncio? Talvez tenha. Se não tivesse não existiria. Seria apenas nada. Tem sim. Se me minha mente não para por um instante sequer, é por causa desse nome. Mas que nome será esse? Nem eu sei ao certo. Talvez saiba. Mas a incerteza impede-me de pronunciá-lo. Desconheço seu nome, seu motivo de existência. Mas essa existência perdura através das horas.
Em alguns momentos traz alento. Acalma-me. Mas apenas quando em nada penso. Se penso, deixa-me inquieto. É melhor não pensar. Mas se pensar, poderei desvendá-lo. Seria tamanho atrevimento mera tentativa. Posso ousar a fazê-lo. E devo? Isso já não cabe a mim decidir. Deixe o tempo trazer-me as respostas. Mas sei que a ansiedade me corroerá se esperar. O tempo é relativo nessas horas. Como em todos os momentos. E como em todos os momentos, é curto demais. E só se passa uma vez.
Talvez esse silêncio se dissipe no fim desta tarde. Assim espero. Mas como o farei? Outra incógnita a formar-se em minha cabeça. Mas pretendo fazê-lo. Restam-me algumas horas para pensar em possível solução. Mas se pensar demais, ele estará a soprar meus ouvidos novamente. Não raciocinarei corretamente. Este simples sopro atormenta-me. Nenhuma palavra, apenas sopro. Mas se proferisse palavra, já não seria mais silêncio. Seria apenas nada. Seria apenas vazio.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Lingüisticamente correto, politicamente nem tanto...



[ Tudo vai mudar...Eu vou na fé onde eu quiser, eu vou lá... Tudo vai mudar (US4)]


Ele veio aqui. Prosio uma barbaridade co povo. Fez um tar de comício. Festança que só vendo pra acreditá. Teve inté uns foguete. O povo todo oiô maraviado. Não que nóis nunca tivesse visto um troço daquele. Mas aqui é fim de mundo sinhô. Aqui coisa bonita nóis só vê de vez em quando. Não que nossa terrinha seje feia. É boa por demais. Mais é que é meio esquecida. É um bocadinho longe da cidade.
Mas somo um povo muito alegre. Nóis semo tudo trabaiadô. Nóis num tem hora nem corpo mole pra fazê as coisa. Nóis levanta junto co Sol. E vai dormir bem adespois dele. Nóis tem nossa lavora, nossas criação. Mais num era nisso co home tava interessado. Ele tava era falando da votação.
Tava pedindo nosso voto. Aqui nóis é tudo meio separado, sabe? É uma casa mais pra longe que a otra. Mais quando nóis se ajunta dá um povaréu que té Deus duvida. E quando teve o tar do comício, nóis tudo se reunimo. Nóis queria vê que que o home da cidade queria falá pra nóis. E o home falava cada palavra bunita. Eu pra falá bem as verdade num intendi a metade. Mas que foi bunito foi.
É que é home estudado né? Nóis aqui num teve muita oportunidade não. Nóis nasceu foi aqui no meio dos pasto, no meio dos bicho. E foi desse jeitinho que nóis cresceu. E como nóis somo filiz quesse nosso pedacinho de chão. Nóis não carece de muita coisa não. Mas o home falô tanta coisa.
Disse que ia botá asfarto aqui. A muié q ficô filiz por demais da conta. Tudo aquele poerama que levanta da estradinha sempre acaba indo pro lado das ropa pindurada lá no varar. O home inté falô que ia fazê um postinho aqui pra nóis. Disse que é cumprumisso da cidade cuidá da saúde do povo. Prometeu também fazê uma reforma na nossa escolinha. A miseráve tá caindo os pedaço. Faz mais de ano que nem professor ali tem. Esse ele também falô que ia mandá um da cidade.
O povo fico tão filiz co home. Nossa Senhora do céu, quirida mãe de Jesuis. O povo tudo dessas banda vai votá nele. O meu voto é garantido quele vai tê. Eu quero vê como é que vai ficá o tar do asfarto aqui. Nossa estradinha vai ficá uma belezura...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Une agréable soirée...


[So take these words and sing out loud, ‘cause everyone is forgiven now, ‘cause tonight's the night the world begins again (Goo Goo Dolls)]

Era para ser apenas uma noite comum, como todas têm sido de umas semanas para cá. Mas não foi uma noite comum. Não passou nem perto de ser. Foi diferente. Não diferente no sentido de estranha, foi um diferente agradável, foi um diferente no sentido de inesperada. Algo totalmente inesperado. Uma conversa, alguns passos, muitos risos. Estou até o presente momento sem saber de onde surgiu tal surpresa. Na verdade, poucas coisas sei. Ou quase nada para ser absolutamente sincero.
Lembro-me de uma música em meus ouvidos. Há muito não a ouvia. Há muito tempo mesmo. Na época em que a ouvi pela primeira vez, tornou-se uma das preferidas instantaneamente. Mas o tempo passou e conheci músicas novas, e a deixei de lado. Mas não era tanto pela música, mas sim pelo trecho que eu tanto adorava. Coincidentemente foi o que escutei. Um tanto atônito, percebi quem estava a cantar aquele pequeno trecho.
Não. Não foi isso que houve de tão diferente em minha noite. De modo algum. Isso pode acontecer com qualquer pessoa. A diferença encontra-se na incidência de diversos fatores ao mesmo tempo. Fora a música, as horas de conversa, os passos e, acima de tudo, a ótima companhia. Por mais que eu tenha feito uso de poucas palavras, nossa conversa foi algo bom para mim naquela noite. Na verdade, eu não conseguia falar muito.
Confesso que preferi me reter ao silêncio. Sentia-me bem naquele momento, pois eu apenas a observava. Talvez ansiosa, pois seus pés inquietos não cessavam por um instante sequer de tremular. Mas aos poucos eu dava sinais, muitos extremamente perceptíveis. Minha mão irrequieta por vezes desejou segurar a dela. Meus olhos flamejavam ao encontrar os dela. Meus lábios ansiavam tocar os dela. Era apenas ela naquela noite.
Mas ainda falta dizer-lhes algo. A lista ainda está incompleta. Faltou dizer-lhes sobre a chuva. E como foi adequada ao momento. Nunca usufruí tanto de uma simples chuva. Voltei para minha casa pulando e brincando pela rua. Criança? Talvez. Mas naquela noite isso me era permitido. Naquela noite eu poderia fazer o que eu quisesse. O mundo era uma pequena bolinha que cabia em minhas mãos. Simplesmente porque foi uma noite diferentemente agradável.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Melancolia crepuscular...



[Every memory of looking out the back door, I had the photo album spread out on my bedroom floor, it's hard to say it, time to say it... Goodbye, goodbye... (Nickelback)]

Deparei-me com uma antiga lembrança esta noite. O sono não veio, o que apresentou ínfima brecha para que acontecimentos antigos viessem à tona. Ínfima, porém fartamente usada por meus pensamentos. Acabei por inebriar-me em um mar de recordações. Inevitavelmente abri uma gaveta. O ruído produzido transpassava meus ouvidos e me estremecia. Não muito diferente foi a reação ao terminar de abri-la. Uma fotografia. Alguns anos passados. Ainda era garoto.
A nostalgia abriu portas e silenciosamente adentrou meu quarto. Calmamente me abraçou. Uma imensa saudade comprimiu meu peito naquele momento. Tivera eu culpa? Talvez. Não sei ao certo. Tudo aconteceu depressa demais. E quando olhei, já não estava mais lá. Era apenas poeira e caixas com alguns objetos.
Tudo o que eu ouvia eram apenas palavras de apoio. Diziam que eu deveria me acostumar. E acho que realmente me acostumei. Era algo tão simples para tantos. No momento não foi para mim. Mas eu tinha de deixar para trás. Seria uma nova vida que teria de ser começada. E eu a recomecei, a duras penas, levando algumas caixas empoeiradas nas costas, e uma infindável esperança nos olhos.
Esperança renovada a cada vez que o Sol nascia. A luz que banhava minha casa iluminava minhas mãos. Aquecia-as e lembrava-me que por mais pesaroso que tenha sido o ontem, o hoje vem para trazer-nos um pouco de alegria. Coube-me receptar a mensagem trazida por aqueles primeiros raios de Sol e interpretá-las de maneira correta. Coube-me deixar aquela alegria gerar bem-estar, gerar calmaria nas tempestades que açoitavam constantemente meus dias. Restou-me a decisão de elevar minha fronte.
Olhei fixa, porém ligeiramente meu futuro. Terei de decidir por meus passos. Queira Deus que sejam certeiros, mesmo em terras inóspitas que nunca vi. Queira Deus que levem a bons caminhos, ou que, pelo menos, levem a caminhos. Estagnar é a mais frustrante das consequências. Não peço que levem à felicidade, pois essa, terei de encontrar dentro de mim mesmo, antes de ir a lugar algum.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Es(his)tórias pretérito-futurísticas...



[As palavras de outrora não me ferirão mais... "Dos cegos do castelo me despeço e vou, a pé até encontrar, um caminho, o lugar, pro que eu sou" (Titãs) ]

Não compreendo como ocorreu. Mas ocorreu. Desisti. Vergonhosamente assumo que desisti de tudo aquilo que me era mais prezado. Simplesmente não sei como. Sempre me orgulhei de lutar até o fim, até a última batalha, de procurar batalhas até mesmo depois que a própria guerra havia se acabado. Apenas sei que, morreu. Morreu por falta de alimento, por falta de alento a um coração conturbado. Morreu meu sentimento. Vítima de uma famigerada frieza, conhecida em cada canto onde beija o vento.
Enterrado em uma vala comum, sem o menor dos cuidados. Foi deixado onde todos poderiam ver, mas onde poucos se atreveram a pisar. Quando a ousadia tornou-se ato concreto, o golpe de misericórdia acertou-lhe entre os olhos. Aturdido, fora ao chão. Deixado para trás, desprovido de dignidade. Mas não desprovido de pranto. O pranteei, não pelo seu doce alvo, mas sim, por sua existência não fazer mais parte de mim.
Talvez com sua partida, ele tenha levado um pouco de mim também. Sinto certo vazio em meu peito que persiste em acordar-me em algumas noites. Roubando meu sono, minha paz. Atormentando-me mais a cada noite. Trazendo-me pesadelos às vezes. Pesadelos que relembram imagens de momentos distorcidos. Como uma fotografia de um objeto em movimento. Fora de foco, granulada.
Sinto falta de quando os sonhos eram bons. Em que se via beleza nos menores detalhes, e a beleza refletia o mais singelo, porém, mais belo dos sorrisos. Sinto falta daquelas noites, pois dormia calmamente. E no dia seguinte, era em minha face que havia um sorriso. Eu sinto falta de quando meu sentimento me fazia sorrir. Sinto falta de vê-lo em minha frente, de observá-lo silenciosamente, admirá-lo pacientemente. Sinto falta dele.
Sinto falta, pois ele me trouxe valioso aprendizado. Afirmo que foi grande mestre, pois mostrou que eu estava errado em meus propósitos. Eu quis o mundo. Mas em impiedosa queda me fez ver que de nada vale possui-lo, se não houver alguém ao meu lado para apreciar cada instante, cada segundo de tudo que há de mais belo ao meu redor.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Inverso do amanhã...



Não sei se devo falar sobre isso, mas talvez o silêncio seja pior. Mas também não sei se tenho coragem. Em alguns momentos, sinto-me estranho, espanto-me com meu reflexo no espelho. Sou eu? Sim. Este sou eu, e sempre serei. Mas, por mais bizarro que pareça, esse eu é a minha identidade, e como me sinto feliz por isso. Talvez isso seja mais bizarro ainda.
O que tento dizer é que, na verdade, não consigo dizer. Faltam-me as palavras para expressar o que se passa em minha mente. Eu apenas sei que acordei esta manhã, neste dia comum como qualquer outro. Levantei-me e, por meio de alguns passos tímidos, ainda sonolentos, cheguei até o banheiro para lavar meu rosto. E lá estava eu.
Meus olhos fitavam penetradamente aquela imagem. Talvez estivesse tão embriagado na loucura de uma vida que esqueci a real essência que ela possui. Mas procuro não pensar sobre isso. Deixe esse assunto para os filósofos, eles se ocuparão de descobrir o sentido da vida. Eu sou apenas um jovem em busca de alguns sonhos.
E, arriscando-me em terra desconhecida, digo que a vida é um sonho. Ou será que a vida é feita de sonhos? Meus neurônios entram em colapso por cogitar apenas uma das duas hipóteses. Sou tolo demais para entender tais questões. Apenas entendo dos meus sonhos. Quero tentar torná-los realidade, irei ao seu encontro sem medo que eles possam me ferir. Creio que certas mudanças, algumas drásticas, outras pequenas, terão presença assídua nesse caminho. Eu talvez até mude de cidade.
O que quero dizer é que, não sei. Não sei como será, mas vou atrás deles. Não sei o que terei de deixar para trás, mas deixarei com a certeza que aquilo que amo sempre estará de braços abertos para mim. Não sei o que encontrarei nessa estrada, mas aprendi que um sorriso sincero abre até as portas mais antigas e pesadas. Vou com a certeza dos meus passos incertos, ainda lentos, ainda sonolentos. Vou ali, me olhar no espelho, uma última vez.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Um chocolate, um milk shake, far away for far too long...

[ eu só preciso estar descalço, conheço a estrada em minha frente como a palma da minha mão]




Ruínas. Foi o que sobrou de um sentimento há muito tido. Eu simplesmente desabei, fiquei estático. Não nego que fui covarde perante o acontecido. Não nego que desejei não estar naquele local, naquele exato momento, que desejei ser um desconhecido e que passasse despercebido. Para o meu pesar, não foi o que ocorreu. O que ocorreu é que é a fonte do problema, ou, mais sinceramente, da minha atual inquietude. Eu pensei em acender um cigarro, dois, três. Mas lembrei que prometi a mim mesmo que não faria mais isso. E Deus, já faz uma semana. O tempo passa depressa, e eu vejo que não tenho tempo para o tempo que queria ter. O tempo passa, e minha inquietude me persegue. Em alguns momentos a sinto amenizada. Mas não hoje, não nessa tarde fria. Tudo porque... E eu nem sei porque... Eu apenas sei que eu a vi.

Amor, raiva, carinho, ódio, paixão. Não sei o que cobriu minha face naquele curto período de tempo. Eu não conseguia distinguir nada ao meu redor. O mundo foi pelos ares, eu apenas lembro de uma conversa sobre Santiago, e é claro, do seu rosto. Terno e ao mesmo tempo cheio de questionamentos. Eu vi receio em seus olhos. Mas ela não viu o medo nos meus. Medo de dar errado mais uma vez, das palavras não saírem da minha boca, de meu riso incontido disfarçar minha aflição.

Infelizmente, meus maiores temores se tornaram reais. Por quê? Por que sim. Não era o desejado, mas foi o sucedido. Virei minhas costas e restou-me um nó na garganta. Eu fiquei de joelhos. Eu a toquei, mas foi como se ela não sentisse. Coloquei-me ao seu lado, mas foi como se ela estivesse quilômetros distante. E eu ali, sozinho. Tentando achar o interruptor. Tentando achar o caminho de casa. Verificando se ainda havia chão sob meus pés.

Se eu tivesse palavras? Se eu tivesse as respostas certas? Teria mudado? Não quero nem lembrar de minha mente. Ela se transformou em interrogações e incógnitas. Por diversas vezes jurei deixar aquela garota para trás. Mas minha mente interferia colocando-a em meus sonhos. Recordando a música que tanto me lembra ela e forçando-me a ouvi-la, vez após vez.

Amanhã será outro dia. Espero que enquanto minha cabeça estiver encostada em meu travesseiro, eu consiga tomar coragem. Coragem para que, quando eu acordar, eu possa olhar para aquelas ruínas uma última vez, suspirar brevemente, ir na direção oposta. E não somente coragem, mas também força. Para que eu possa seguir em frente e não olhar mais para trás. E quem sabe um dia, ao andar pela rua, ao passar por uma esquina qualquer, eu aviste a causa daquelas ruínas de novo. Sei que estremecerei. Sei que em um milésimo de segundo, meus olhos verão trilhões de lembranças em uma nitidez jamais presenciada. Mas fazem parte de um passado que está do outro lado da rua. O presente, já virou passado nesse minuto, e será no minuto seguinte, e no próximo, e no próximo. Meu futuro está diante de mim, não sei como será. Mas sei, que ela pouco o presenciará.

domingo, 5 de outubro de 2008

Adeus...



Reitero que há uma imensa ansiedade em meu peito. Eu tento suportar, e sempre vou além dos meus esforços. Mas na mesma medida em que fico mais forte, essa ansiedade aumenta.
Agora, não tenho mais escolha a não ser esquecer o motivo de tal aflição. Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance, simplesmente para estar próximo daquela que um dia chamei de anjo. Eu desisti de alguns hábitos, livrei-me de velhos vícios, fiz o que pude para mostrar o quanto eu queria estar ao lado dela.
Inicialmente, era um doce tormento. Eu ficava inquieto em sua presença, apreensivo em nossas conversas. Eu não conseguia me expressar, minhas mãos ficavam gélidas e petrificavam-se instantaneamente, meu olhar me condenava e minhas pernas tremiam. A adrenalina percorria minhas veias e fazia o mundo explodir a minha volta. Tardiamente, naqueles poucos momentos, tudo se resumira a ela.
Soube desde o início que eu me perderia nesse caminho incerto. Fui forte, até o dia em que a vi chorando. A encostei em meu ombro e tentei lembrá-la das alegrias que estavam por vir. Queira Deus que as lágrimas nunca mais tornem a percorrer sua face. Aquele rosto merece o mais belo dos sorrisos. Aquela alma merece a mais duradoura felicidade.Admito que cometi erros e por eles fui julgado. A sentença, não foi das piores, mas me afastou dela. O caminho que me restou, também não é dos melhores. Mas, quem sabe um dia, eu poderei fugir por um instante, esquecer de tudo, correr para onde ela estiver, vê-la, ao longe, sorrindo, sonhando, vivendo dias felizes. Assim como os que um dia desejei e ainda desejo para ela...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Gravidade...


Outro dia me falaram sobre a lei da gravidade, até fiquei interessado sobre o assunto. Passei a me questionar a respeito disso, e outros vários assuntos foram surgindo. Alguns deles não mereciam sequer aquele instante de atenção que eu estava lhes dando. Porém, outros me cativaram, despertaram certo carinho ao admirá-los. Admirava como um bobo as coisas ao redor da afamada lei da gravidade.
Havia pessoas, lugares, percepções. Havia céu, mar, sol, vento. Ah, sim!!! O vento... A sensação do vento... Ele me carregou, me arrastou. Para longe, muito longe. Era como se eu divagasse por um mundo onde leis não se faziam presentes, onde não havia estatísticas, não havia números. Um local onde o caos não reinava. Onde eu jamais estive, e onde eu quero para sempre permanecer.
E quanto à lei da gravidade, ela só existe para os que a querem, para os que a respeitam. Existem diversas maneiras de burlá-la. Eu encontrei o vento, e ele me deu asas.

Homenagem a uma assídua leitora...

sábado, 13 de setembro de 2008

Quero sentir...


Apenas quero sentir aquilo que me faz bem perto de mim, quero sentir a liberdade tocar meus olhos, quero sentir a poesia traduzir meus sentimentos, quero sentir a vida suspirar em minha porta, quero sentir a beleza próxima às minhas mãos, quero sentir o dia agraciar a minha face, quero sentir a noite trazer alento aos meus pensamentos, quero sentir a música adentrar meus ouvidos, quero sentir partindo as coisas não ditas, quero sentir as estrelas ao meu alcance, quero sentir o tempo passar lentamente, quero sentir a dureza de uma queda, quero sentir o ar inflar meus pulmões, quero sentir a inquietude do silêncio, quero sentir a santidade do perdão sair entre meus lábios, quero sentir a crença no amanhã, quero sentir a riqueza da simplicidade dos detalhes.

Eu só quero ter asas, para voar para longe do que um dia eu fui, para poder estar perto do que um dia eu serei.

Ando devagar...

porque já tive pressa... Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe. Só levo a certeza de que muito pouco eu sei. Eu nada sei...


Eu apenas ando. Não sei para onde. Desconheço até hoje a razão que me leva a ela. A essa estrada que muitos temem, mas que eu conheço como a palma da minha mão. Vou andando sozinho, calmo, sereno. Desfrutando da paz que essa viagem me proporciona.
Em alguns momentos, o vento se torna meu companheiro, e traz aquela brisa gélida de inverno que paralisa por instantes os meus pensamentos. Mas mesmo assim, continuo andando. Longe de tudo, longe de todos.
De vez em quando me flagro relembrando sonhos que há muito deixei para trás. Mas que nem por isso são ausentes em meu presente. Foram eles que deram lugar a novos.
Às vezes minhas pernas cambaleiam, mas apenas a recompensa de poder ver o que está ao meu redor apaga qualquer vestígio de dor. Ela se torna mera coadjuvante em um espetáculo infinitamente maior.
Vou sem pressa, nada do que está às margens da estrada exige lentidão, mas eu me demoro apenas para apreciá-las calmamente, para tentar entender um pouco da sua beleza. E quando elas não podem ser entendidas, somente me retenho a admirá-las.
Às vezes me sinto um tanto perdido, sinto como se estivesse vagando em meio ao nada. Mas a estrada sempre continua à minha frente. Eu tenho a ela, e ela a mim. E às vezes é a única coisa de que preciso.
E eu simplesmente ando. Sem pretextos, sem anseios, sem rumo, sem hora para partir, sem hora para chegar.
Apenas ando.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

De braços abertos...

Há muito tempo não sentia essa paz que me invade e explode em milhões de partículas de felicidade. Redescobri o que é um sorriso de criança, relembrei o que é não pensar em nada por um instante, recordei o que é brincar de descobrir desenhos em nuvens. Lembrei de como é ter a alegria e a inocência dos olhos de um bebê, mas não esqueci da sabedoria refletida pelos olhos daqueles que já viveram inúmeros invernos. Também lembrei do quanto é importante olhar para o vazio e não refletir sobre nada, e apenas rir. Rir incessantemente, descontroladamente. Senti novamente aquela sensação de liberdade que o vento nos traz quando toca nossa face. Senti novamente a extraordinária sensação de esperança após o sol se pôr e nascer no dia seguinte. Senti a fragilidade de uma respiração, e a continuação da vida após outra, e outra, e outra. Percebi a beleza e a simplicidade daquelas pequenas coisas que nos tornam felizes, e que esqueci de ver por tanto tempo. E o mais importante de tudo, lembrei que o futuro é incerto, e que virão acontecimentos bons e ruins, mas que devo estar de braços abertos, para rir e aprender.

sábado, 6 de setembro de 2008

Inominável...


Quanto tempo fiquei a esperar
Por essa sensação que me consome
Trazendo ao meu ouvido, apenas o seu nome
Em um incessante sussurrar

Talvez ela dure a eternidade
Ou talvez, apenas um instante
Talvez ela me leve à felicidade
Ou se torne apenas uma lembrança distante

Talvez ela me mostre novos sentidos
Talvez ela me traga esperança
Talvez ela mude meu modo de pensar
Talvez ela relembre sonhos perdidos
Talvez ela me dê o sorriso de uma criança
Talvez ela crie um outro universo
E, talvez, ela possa se transformar
No carinho e na simplicidade de um verso

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

From sorrow to serenity...

Em determinados momentos de nossa vida, nos interrogamos sobre as adversidades que ela nos propõe diariamente. Apenas nos lamentamos pelos acontecimentos ruins, pelas desilusões, pelas decepções. E elas nunca são poucas. Cabe a nós a tarefa de decidir o que faremos a partir do momento em que elas ocorrem. Podemos simplesmente virar nossas costas, fingir que não houve nada, e sofrer silenciosamente as consequências, ou podemos retirar de cada uma delas uma lição, aprender o que cada queda quer nos ensinar. Diante disso, só nos resta uma única decisão a tomar, seremos hipócritas a ponto de negar nossas atitudes ou seremos sábios ao ouvi-las? Apenas lembrem-se que o mundo não pára para escutar nossas lamúrias... Não importa quão duras sejam as quedas, quão dolorosas sejam as perdas, quão devastadoras sejam as tempestades, parte de nós a oportunidade de encontrar o riso após uma noite pesarosa...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Arrisque-se...


Por que tememos nos arriscar?

Esse temor é o prelúdio do maior dos abismos. Uma vez à beira dele, fugir torna-se inevitável . Me refiro ao medíocre medo de uma mera tentativa, medo das possíveis consequências, medo do que virá.
Muito conhecida é a frase que diz que perdemos muitas coisas preciosas pelo simples medo de arriscar.
Vamos nos reter por um momento acerca dessa afirmação. Quantos acontecimentos, sentimentos, emoções já não nos foram roubados por ele? Pare um momento, questione-se, reflita.
Somos nossos próprios fantasmas. Não é a vida, nem o mundo, apenas nós mesmos que somos responsáveis por nossas escolhas. Perdemos porque somos nossos próprios vilões.
Vejamos o outro lado da moeda... E se cairmos?
Se cairmos, devemos nos parabenizar, simplesmente porque tivemos a ousadia de tentar, porque nos instigamos a descobrir algo, porque tivemos, por um momento, a possibilidade de ver um novo horizonte, mesmo que ele venha a ser sombrio mais tarde.
Devemos nos alegrar sim, nos orgulhar da força que tivemos, pois nos demos a chance de nos pôr em risco, nem que fosse por um segundo, de perder tudo, para ganhar algo ainda mais valioso.
Se houve queda, ainda é desconhecida melhor maneira para aprendermos um pouco sobre os mistérios da vida. Caímos e, certamente, devemos nos levantar, não há coisa alguma na nossa frágil existência que o tempo não cure.
Se houve queda, inestimável é o ensinamento que ela nos traz. Devemos apenas olhar atentamente e um infindável diálogo terá início. Olhos cautelosos verão os erros e mentes sábias saberão consertá-los em um futuro muito próximo. Lembrando sempre que somos suscetíveis a erros a qualquer instante, restando-nos a incumbência de deter sabedoria para lidar com eles.
Pode ser um preço excessivamente alto a se pagar, mas de uma forma ou de outra, a recompensa será ainda maior. Portanto, arrisque-se, não tema a escuridão do futuro, pois ela nunca temerá você.E se houver uma abrupta queda, que ela seja uma queda livre, insanamente sã...

Show da vida...



Obrigado senhoras e senhores, mas por favor, não se levantem, este é apenas o início. Agora, senhoras e senhores, bem-vindos ao nosso show, lhes apresento meu monólogo favorito, ou será uma discussão? Ah, sim! Nem uma, nem outra. É apenas um pedido de aplausos. Imploro para que elevem um pouco seus olhos, atentamente em direção ao palco. E agora sim... Aplaudam, aplaudam... Aplaudam os milhões morrendo de fome, aplaudam as drogas e a violência que elas geram, aplaudam a decadência da saúde, e as vidas que ela deixa de salvar, aplaudam o desprestígio da educação, e as ingênuas ovelhinhas que ela ensina a seguir o tirano disfarçado de bom pastor, aplaudam o trânsito caótico, o desrespeito às leis, o desrespeito aos valores e a criação de falsos valores também. Senhoras e senhores, aplaudam a ganância, a inveja, o medo, o ódio, a corrupção... Sim senhoras e senhores, a corrupção... A serpente que habita intrinsecamente cada um de nós. Senhoras e senhores, nosso show chega ao clímax, espero não tê-los desapontado quanto à duração dessa apresentação, mas não se enganem ao pensar que nosso show termina aqui. Ele está aqui, no meio de nós, nas ruas, nas casas, no ontem, no hoje, no amanhã. Senhoras e senhores, este é o show da vida... Ou será um show de horrores?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Apenas perca tempo...

Por que temos tanto medo de perder tempo?

Esse medo nos assombra a cada dia, a cada hora, e acaba por nos privar de grandes relações, quer seja apenas laços de amizade, ou o grande amor que todos procuramos. Onde foi parar o companheirismo, a compreensão, o aperto de mãos, o abraço? Não temos tempo para uma simples conversa que dure horas. Não temos tempo para despender uma tarde com aquela pessoa que nos faz tanto bem. Não temos tempo para aquela pessoa que tanto amamos. Preferimos nos selar em nossos mundos, nos esconder atrás dos nossos muros de incerteza, fazendo com que nossa única companhia seja a insegurança. Não olhamos mais para os lados, não vemos quem está conosco, quem nos apóia, nos incentiva. Esquecemos do mundo ao nosso redor, e nos centramos apenas em nós mesmos. E por quê? Simplesmente porque somos cegos. Queremos ser médicos, advogados, engenheiros. Queremos ter grandeza, fama, dinheiro, poder. Como se fossem as maiores conquistas possíveis. E para que isso servirá? Viemos do pó, e ao pó retornaremos. Não levaremos nada deste mundo inundado em ganância e destruição.
Não é uma questão de valorizar o tempo, pois todos valorizam de alguma forma, mesmo que seja sem fazer coisa alguma, mas sim, de usá-lo da melhor maneira possível. Deixo bem claro que não estou afirmando que não devemos nos dedicar àquilo que almejamos. Devemos sim, já que qualquer esforço nos traz conhecimento, mas de forma moderada. Ressaltando sempre, que o conhecimento é única coisa que não pode nos ser roubada. Podem nos retirar tudo, a liberdade, a vida, mas nunca o conhecimento. Mas, de que adianta termos conhecimento, termos alcançado nossos sonhos, se não temos ninguém para partilhá-los conosco?
Eu apenas lhes aconselho perder tempo. Perca tempo conhecendo pessoas novas. Perca tempo com aquela grande amizade, conversando, recordando. Perca a tarde com aquela pessoa que lhe faz bem, rindo, se divertindo. Perca muito tempo com aquela pessoa que você ama. Beije-a como se fosse a última vez que a estivesse beijando. Diga o quanto a ama como se fosse a última vez que estivesse proferindo estas palavras.
Como já disse, não levaremos nada daqui. E, interessantemente, eu não quero ter fama, nem dinheiro, nem poder. Eu só quero deixar boas lembranças no coração daqueles que amo e daqueles que me amam quando eu retornar ao pó.
Eu apenas lhes digo...

Percam tempo!!!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Olhos...

“Em terra de cegos, quem tem olho é rei.”
Será verdade esta afirmação? Talvez não em nosso tempo. Podem tratá-la como uma benção, mas não passa de uma maldição... Sim, maldição. De que adianta ter olhos e só poder ver a cegueira a seu redor? É solitário, melancólico. É uma das piores sensações ver o que está ao seu redor e não poder fazer com que o outro veja, mesmo fazendo uso das palavras corretas, ele não entenderia. Mesmo frente a frente, são como fantasmas, como o vento que nos toca, como o ar que respiramos. Pois se não se entende não se vê e se não se vê não se entende... O que fazer para abrir os olhos de uma multidão? Tentativas e falhas são as únicas coisas que permeiam esse caminho. Infelizmente é algo que está fora do alcance de meros mortais.

Maturidade...

O que é ser maduro???
Tantos proferem essa palavra com o intuito de dizer exatamente o contrário. Que o outro é infantil. Isso me leva a uma segunda pergunta. O que é ser infantil? São dois adjetivos absolutamente relativos, já vi pessoas adultas serem chamadas de “imaturas” e crianças serem chamadas de “maduras”. Mas agora lhes exponho uma afirmação, aquele que faz uso de um estonteante pedestal para discursar sobre a “imaturidade” de alguém, é, todavia, o “imaturo” da discussão. Posso lhes contar que perdi alguns bons momentos refletindo sobre isso, inclusive perdi algumas horas de sono. E finalmente descobri que quero ser um eterno “imaturo”. Prefiro ser uma “criança” que brinca, ri, se diverte, do que ser um “adulto” para apenas ter um motivo para me vangloriar sobre algo falso, relativo, mero valor social.