sábado, 14 de agosto de 2010

De tudo o que sobrou...

[So please remember me, finally and all my uphill clawing. my dear, but if i make the Pearly Gates I’ll do my best to make a drawing of God and Lucifer, a boy and girl, an angel kissin’ on a sinner, a monkey and a man, a marching band all around the frightened trapeze-swinger... (Iron & Wine)]

De tudo o que era bom, me restou pouco. Daquilo que me fazia despertar às seis da manhã e correr para pegar o ônibus. Que me fazia cozinhar a janta ansioso por chegar as 22:10h. Que me fazia sentir como criança aguardando o final da semana, para ter tempo para o que mais gostava de fazer. Que dava calor aos meus braços nas noites frias.

De tudo o que me fazia refletir sobre o tempo, quase nada existe. Daquilo que me fazia esquecer o passado e lembrá-lo raramente. Que fazia do meu presente algo indissociável da sua presença. Que me fazia olhar para o futuro com a esperança de ver rugas em nossas mãos. Horários de transporte coletivo que foram decorados esvairam-se da memória.

De tudo o que dizia respeito a espaço, as concepções sofreram alterações. Aquilo que era outrora um recanto, tornou-se uma casa vazia. O que era um ponto de chegada e permanência, transmutou-se em local inatingível.

De tudo o que era minha certeza, fatos a meu respeito contestaram. Aquilo que chamam de dúvida surgiu perniciosa à minha cabeça. E todo o tempo, o espaço, toda a história foi lançada à calçada por minhas mãos.

Do que era o sentimento mais intenso por mim sentido, sobrou a saudade, a questão incalável a respeito das causas de nosso insucesso. Sobrou o desejo de que ela seja feliz, de um modo como eu talvez jamais pudesse proporcionar, de que ela alcance seus sonhos e viva tranquila.

Sobrou o desejo de que se lembre para sempre das coisas boas que passamos juntos e que as mágoas passem logo, que ela lembre do que sempre senti...

2 comentários:

Ju. disse...

Ainda sobraram as lembranças...
e ainda sobrou o resto da vida.

Lucan°oO disse...

Imagens poéticas preciosas. Muito massa!