segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Floco de palavra...

[Quero poder jurar que essa paixão jamais será palavras. Apenas palavras pequenas. Palavras... (Cássia Eller)]


Eu estava andando. Seus olhos não me viram. Se me viram não me seguiram. Se seguiram não me encontraram. Se encontraram não me acharam. Não era eu. Eu estava em casa, sentado no centro da sala. Tomei emprestado da cozinha uma cadeira. Esqueci de ligar a televisão, apenas fiquei ali sentado. De repente, fui surpreendido por um floco de neve encostando-se à janela. Em que estação estamos mesmo? Não importa. Aqui não neva.
Pensei no conto que havia escrito uns dias atrás. A resposta que ainda não obtive. Lembrei-me do poema que comecei e ainda não consegui terminar. Escrevi outro. Esse terminei, àquele ainda faltam alguns versos. Não que falte inspiração, falta vontade de escrever. Escrevê-lo para que, se certamente ele não chegará às mãos de sua musa? Ah minha Marília! Se você soubesse o quanto eles lhe dizem... Acho que é por você desconhecer a existência deles que ainda não os terminei. Será que devo lhe contar?
Ouso fazer-me uma pergunta ainda mais desprovida de resposta. Será que devo mostrá-los a seus olhos? São versos meio bobos e um tanto infantis. São rimas ingênuas que mesmo depois de prontas me parecem sem brilho. Temo que assim também pareceriam a você. Estão sendo feitos de um modo simples, distantes das simetrias de um soneto. Digo “sendo” usando o gerúndio do verbo porque como dizem, o emprego dessa forma exprime uma ação ainda inacabada. Assim encontram-se eles.
Inacabados, com uma forma apenas esboçada. Palavras em cima de borrões. Palavras que não sei o que significam. Conseguirei achar uma que demonstre o que sinto? Se encontrá-la, acharei uma rima? Palavras são pedacinhos de grafite, tinta, voz, códigos binários. O que elas dizem se delas retirarmos o sentimento?
Tantos pontos de interrogação me deixaram entediado. Acabo de lembrar-me de uma brincadeira de quando eu era nada mais que um infante. Se me dá licença, vou até o parapeito da janela para contar quantos carros passam pela frente do meu jardim. Quem sabe eu veja um exemplar de um que me causou muitos risos em uma determinada noite. E talvez, com a alegria dessa lembrança, venha também a vontade de terminar aquele poema. Boa noite minha Marília.

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