quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Janela de uma alma...


[ Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão. Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão. Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão... (Legião Urbana)]



Fui lentamente até o canto do quarto. Lá era o único lugar em que havia luz com a lâmpada apagada. Fui devagar e sem tocar no interruptor. Eu não queria acordar ninguém. O feixe luminoso vinha da rua, vinha do poste. Atravessava a frágil janela de vidro. Chegava até o piso de madeira já comprometido pelas idas e voltas de seus antigos donos. Mas lentamente eu fui, colei meu rosto na janela, trouxe o caderno o mais perto que pude da luz. Eu precisava escrever. E essa necessidade percorria minhas veias em um movimento que quase me enlouquecia. Não tenho um grande motivo para escrever, foi um dia monótono em que acordei com uma tremenda dor no braço direito. Dormi de “mau jeito”. Mas creio que isso logo estará resolvido. Já tratei de me automedicar. Espero que a dor passe ou então, na pior das hipóteses, prometo que acenarei para vocês lá de cima.
Mas creio que não sofrerei conseqüências tão graves, é só uma dor no braço. E mesmo assim insisto em me aconchegar próximo à janela. Quero aproveitar cada segundo dessa luz, pois mesmo sem ter muito o que escrever, o desejo de continuar aqui é grande. E não consigo ficar parado, sem escrever. Isso acabou por se tornar uma lei em minha vida. Pode ser coisa fútil para alguns olhos, para outros, pode ser arte, eu só sei que escrevo. E escrevo muitas vezes sem pensar, escrevo o que está em meus pensamentos. E deles faço poesia, faço arte, faço estória da história. Desfruto da minha inquietude para mostrar uma inutilidade a um possível ouvinte. Será você a me ouvir? Será você a deixar - por um instante que seja, por breve momento – será você a deixar seus ouvidos colados no lado de fora dessa janela? Será você a ficar aqui do outro lado, parado e tentando entender por que está aí?
Não posso ficar te esperando, a luz pode ir embora. Eu estou aqui, você tem até o amanhecer para aparecer do outro lado do vidro. Eu sei que você sabe que eu estou aqui. Mas eu não sei se você sabe o que quer. E é por isso que desfruto desse momento calmamente. Se eu me desprender dele para ficar olhando para a rua para ver se você vai chegar ele desaparecerá, ele se dissipará, irá embora sem deixar vestígios e sem bilhete de despedida. Eu o perderei e talvez nunca encontre outro. Momento como esse jamais tive. O papel está ao meu lado, a caneta ao alcance de minha mão, e a perfeição luminosa atravessa um pedaço de vidro de alguns milímetros dando-me condições de expressar meus delírios.

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